terça-feira, 22 de maio de 2012

Irrisistible

Tudo o que vejo são sombras de algo. Sobras do que veio que visitam, sombras do que vem que ânsias provocam, Sombras no nada que atormentam, sobras de tudo que nada prometem. Nada passa do que é, mas parece mais além e mais aquém, de ninguém. A invenção está ultrapassada, no aprimorar é que está o novo, Do desenrolar é que vem a novidade. Reinvenção é plágio, adoração é sufrágio. Ambição traz desilusão, primores, ilusão. O artista desvaneceu-se há décadas, o ilusionista apareceu há uns segundos da sua magistral obra de engano, de um artificial insano. O autor não é este, é baseado por, é inspirado por. Faz falta a visita da escuridão, apagando resquícios de merdas pseudo-contemporâneas, artes anti-apocalípticas e indícios neo-nada. Por que não vens? Olha só a neve branca como as mentes, inundando este e o outro terreno. Fazes falta, por que não vens? Farto de berrar pelo escuro, insiste em mentir. A incessante mentira transtorna o transeunte, eleva-o à condição de esterco mal decorado. A decoração vem do que está por perto, mas o esforço é insignificante: é facilmente perceptível a lixeira que aqui pousa. Ou não é? Força, a voz que de mim provém começa a fraquejar. Conta-me lá as tuas histórias de fraquejos e incompetências, tenho toda uma quadra para ouvir, reflectir e palpitar. Ombros do tamanho do mundo há-os aos milhares, portanto, por que não o meu? O corpo inteiro, já agora. Mas a minha audição fraqueja também, e mal te ouço. Mal dou ouvidos, aliás. Não é questão de competência, é mais inaptidão natural para tal. E já nem sinto, nem farejo tão bem como costumava. Afinal o esterco é feito de algo, certo. Não eu, eu nunca perderia o controlo da situação, sou ombro e sou tudo, sou sombra de um futuro desnudo.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Don't think twice

Certo, é suposto não fazer falta. Se faz, é errado, se não faz, a estrada desola-se. São estas as premissas de belas andanças. Das más andanças também.
Não desgastar o orvalho: dele faz parte grande parte do início do teu dia. Não desmesurar por completo o ridículo, porque ele faz de ti metade da sua razão de ser.
É disto que se fazem as andanças e as empiricidades do que por aí vai passando. Atentando se faz o caminhante finito.
Chamar pelo nome ficou na geração anterior, a dos falhados. A seguinte? Falhada será, esta reside na alma e alcança todos os públicos, junto com a óbvia arte de redigir.
De sentir só não se faz o homúnculo, melhor não poderia fazer, diz. E diz, diz com dizer de quem diria tudo. E tudo pecaria pela verdade. Certo.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Todos os dias num

Lá que seguem, seguem. E porque seguem não to dirá ele, nem ele. Dirá o que vem e o que seguirá, quiçá. Contemplação estética, diletância profética que ao acabado nada finita, já dizia a desdita e a não dita.
Falando da embriaguez histórica e da monotonia geométrica que engloba o quadrado da hipotenusa, isto é bem simples, por sinal: esquivas as urnas vazias, essas que de pacientes têm fama de vitoriosas, seguem sempre interrompendo o tipo de embriaguez histórica da geometria numérica que aglomera quatro cantos do círculo muito, muito restrito.
Recomeçando, em suma, aquele sentimento primário que não dor, mas dor de sentir, esse malfadado fardo que do vácuo tende a emergir, nada tem a acrescentar. Nada de tudo, nada de camélias ou luas ou toldos ou folhas ou pendências ondulantes coagulantes. Nadinha. Nadinha de peixe, de contos, de fins ou de lentes. Pois, mas

uma explosão sanguínea de delírios escorrendo quentes sobre o calor da pele tocando o mundo. Foi isso que vi daqui, mas foi de longe, de bem longe.

Dito por não dito. Desdito, repito.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Losing my reality

Daqui fala a seriedade do assunto que alguém pretende abordar, directamente, segundo consta.
Não se trata de uma seriedade sóbria, é só mais um palavreado de sede ou fome do que algo concretamente terminado. É a indeterminação dessa realidade que será objectivada no que se dirá.
Uiva-se bastante, no pântano iluminado pela garrafa de chá: ó, se uiva.
Assim, é dado por encerrado o desdito assunto, quase dito pelo desenquadrado orador.
Marsupial é estado terminal.

domingo, 19 de junho de 2011

Hiatos.

Conhecem-se pelo olfacto, de facto.
Surgem pelas traseiras como vilão, insano não, e fazem-se hóspedes de indefinida duração.
Não correspondem às expectativas primordiais por não se fazerem valer do seu valor cordial, animal e sanguinário. Parecem-se comigo mas não são, senão.
A primeira pessoa é inimiga do génio, inspira o tempo. Tempo, veneno mais eficaz, eficiente, mas não efectivo. Com ele, têm, tal como o eu, pacto vitalício
Outrora foram visitantes honrados, caíram sem deixar vil. Brotou a cólera e chás mil, sem açúcar por conveniência e constância. Mundanos.

Só o terreno os pára, tal como.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Há que haver.

Algo a não dizer, dito terá sido: os meus janeiros entristecem o mundo como o conheces, imundo, e não vais querer estar por perto.
Portanto, combinamos um encontro sem lapela do outro lado da rua, onde os ânimos estão exaltados e qualquer quezília passará, apesar de tudo, despercebida. Poderás olhar-me de frente, senãos e delongas dispensados, ergues a mão cristalizada, e esventras-me delicadamente: um prazer deve ser sempre exercido com o devido deleite.

De seguida ergue-se um divino crepúsculo, as nuvens amansam e a mente adormece, entre espasmos da carnal natureza.

domingo, 30 de janeiro de 2011

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Visões de encontros

Velhos companheiros são novas esperanças. Carnes e ressentimentos abandonam corpos carcomidos pelas ácidas chuvas de Novembro, enumeram-se lixos e preciosidades, como cidade depois de saque: o essencial permanece.
Ser tão inútil quanto antes, mas ter tudo ainda pela frente, de novo. São as visões do som da manhã, alertam-me e ergo-me, e recolho pentes, pedrinhas, alguns papéis e poucos bigodes, água qb para a caminhada.

Se olhares pela janela, já fui. Se olhares na minha almofada, ainda lá repousará a cabeça, pesa e não ordena o que advém. Já fui, vão caindo alguns elementos e excrementos desnecessários - sucumbem à desnecessariedade - mas lá continua a pique a toda-iluminada caminhada: tentaste tanto mas consegui. Não sei o que é, mas tu deves saber.
Alguém me aponta na lista de compras "que queres", "estás na lista", "não quero, só disse uma vez", "não sei, estás", "estou sim" "sei que estás, está-te arranhado nas costas" "ahh, és tu, estiveste com eles", "vamos".

Velhos sapatos levam a novos horizontes. De tão amarrotados, não se importarão, não é meu velho?

domingo, 2 de janeiro de 2011

O Predador

A pior coisa para fazer
antes de acontecer,
está ainda por anoitecer.

Degeneração traz criação,
arte, coração.
Lamento desapontar-te.

De anelar realçado vem, disfarçado, tentando as forças zéfiras controlar.

Um conto de fábulas de plástico
faz-se de peito fechado e
como o de um desagradado olhado.

As coisas mais baratas que fiz
tinham musgo e migalhas,
cheiravam a frenesim, laranjas
(essas professoras do fatal)
que me despiam de criação:
eram o sublime.

Leixem-me
dizia o mentor
escrever nas mãos e elas se erguerão.

Esbelta figura a do camarão alado entre ventos apertado, somente guiado pelo êxodo.

Nem tudo funciona,
porém
o destino condiciona
aquele que pelo trecho se rege.
É regido e pouco destemido
o homicida herege. Ele.

domingo, 10 de outubro de 2010

De bonnes raisons pour

Não a encontro, rude de mim. Procura-a a irmã, a mãe e a vida, mas não é encontrada, a prometida. Despendi esforços e o material bélico cessou, sem que fosse atingida a missão primordial, deveras cordial, na incessante incapacidade de cumprir. Suores e corpos se envolveram, gritos e gemidos transformaram a disputa numa sessão carnal sem advento, apenas discernimento e corpos. Nus corpos. Nos chegaram odores e secreções desalinhadas, grotescas, e frescas. O momento acabou de cessar também, os corpos abandonaram a terra de ninguém, gemidos e penetrações tiveram o final que nos espera a todos. Apenas ele ficou, o amaldiçoado e carnal terreno, que consola e desola o ignaro transeunte. Afasta-te se dele ainda esperas algo.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Ser preâmbulo e desaparecer.

Ser preâmbulo do que aí veio, do que cá está, do que se arrasta por entre verduras incontornáveis, por entre fissuras iluminadas, não é digno.
Lá dizia o velho mestre
que vem com desdém,
traz um refém
e osculta sem abominar o pedestre:
Ó inefável incapaz,
se o saber não te satisfaz
o que de ti te fez terrestre?
Tu que cumprimentas todos os zéfiros à sua passagem,
retiras comprimentos de todos os caules,
que é de ti quando não vem aragem
redentora de contadores de paus?
Quantas mais ruas serão precisas, quantos mais antros erguidos serão, antes que o miúdo comece a sua missão? Porque até então nada foi feito, e as gentes estão inquietas, aguardando o ínclito preâmbulo que, desta feita, de todas as feitas, faz demanda.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Raízes vêm do estômago

Se o poder tens, rapaz, então faz dele teu comparsa e domina todas as pedras e bafos de vento que te circundam, reina e sê.
incapaz de sentir, inútil na demanda do alimento, mas o teu ego, próximo do estômago, leva-te além e faz-te bardo. O bardo que abandonou o eterno, o fútil, o amigo: Maquiavél o guie, Mathilde o limpe.
Ah, impetuosa posição que lembra ave, mas revela carne, carne e poros e escuras entranhas onde por detrás se movem incólumes bichos de ser. E arde. Ardem flores e arde o vento que é alimento, deixando o rasto de um tempo que urge por não haver tarde.

domingo, 18 de julho de 2010

Ao cair da venda, a luz

Da esquerda para a direita percorre o vagabundo o caminho que lhe é indicado. Pelo percurso, árduo mas acolhedor na sua sagacidade compenetrate, vê-se encolhido entre as leis da sobrevivência, e mata. Mas não mata com piedade, é maquiavélico quanto as atrocidades que comete assim o proporcionam, e é nisso que se distingue, e é assim que entre as trevas e a luz encontra o refúgio do não-conhecimento absoluto.
Ao cair da venda, o mundo sobrepõe-se sobre as ideias que o antecederam, e a verdade é cada vez mais irreal. A verdade seria matar para renovar, esfaquear o ventre para dele ver brotar vida e génio, em cada órgão interno vital um ideal, em cada vaso sanguíneo um conhecimento atribulado, ou um vaticínio.
Conheço uma câmara escura e sombria, onde caveiras humanas de dispõem vivamente nas paredes - lembrando o transeunte de quando a juventude existia –, nessa cave onde se escolhem e sentam e ensinam membros: aos braços é-lhes ensinado o seu dever de ajudar as mãos a praticar, a artear, a fazer e exercer, é das mãos que provém a vitória do bardo. Às pernas, por sua vez, é-lhes ensinado o dom da ajuda aos pés, que percorrem e levam onde as coisas acontecem, se assim lhes for permitido. À cabeça, essa, nada lhe é ensinado, a ela é-lhe dada a liberdade de ser o fulcral ermo do que é, do que existe e faz existir, nascer e querer morrer, querer matar, querer. Contém a fonte e assiste à palestra no fundo da câmara, desatenta… por isso tem que ser requisitada, muitas vezes em vão, muitas vezes em delírio. Por isso demora, por isso a espera, por isso ninguém conhece, ou demora uma vida a matar para conhecer.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

A imobilidade da mariposa no frasco lilás

Afasta-te se não transportas a realidade contigo! Afinal porque hei-de gravar, pintar, fotografar, se posso, na mais creativa inocência, memorizar os acontecimentos dentro de mim e deste frasco que me é intrínseco, quase oblíquo na sua leviandade?
Exacto. Porque a realidade não se baseia no que eu automaticamente imagino.. no entanto: o real é importante em si, na sua mesquinha razão de ser, ou na forma como é intrepretado, estilhaçado, amordaçado e, por fim, eliminado pela mente brilhante? Há uma resposta simples: arte.
Lembro-me quando os artistas, ainda pequenos, faziam as suas palavras cruzadas sem olhar o papel, pois olhavam a TV onde seis ajoelhadas figuras vomitavam paulatinadamente, na sua correcta ordem, na delineação que a bela história incita.

Se não é interpretado, não é verdade. Se não és real...

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O S não se lê

Oportunidade atrás de oportunidade se vão aprimorando em correcta ordem como numa caixa de vinil.
Ora se aprimora a oportunidade que perdeste (e é sarcástica na sua perda, já que se passeou em tua frente, sem o rosto mostrar), ora vigora a oportunidade que concedeste (doce na sua vil instância, assim como no interesse que a produziu).
O que salva uma, como esventra a outra, é a capacidade de decisão do ínfimo badungo, vulgo ser instalado no ermo teatral, do pérfido transeunte, do insurrecto e putrificado cadáver, há-a sempre. E por haver sempre é que não se lhe é dada a devida fulcralidade: esmeram-se em adoçicar os meninos, mas estender passadeiras, ornamentar liliáceas e estender algo amplificador para dar à capacidade de decisão o papel que merece - "arre!"
E assim se vão sucedendo.. e assim se vai morrendo.

domingo, 20 de junho de 2010

Streptomyces at 3:33

Assim o é: dogma que é dogma vem acompanhado pelo pré-conceito e pela pós-passividade exacerbada.
Primaremos sempre pela limpeza da arma, porte altivo e firme, olhar concentrado num horizonte que é consequência daquilo que se passa, agora, a uns três metros de nós. São estas coisas que ainda suscitam curiosidade. Caso contrário, se víssemos o que está perto em vez do que está ao fundo, seríamos senhores da verdade e do saber, o que não queremos, obviamente, bah!
Se fui agressivo e voraz, ergam-se velas e soprem os mais eriçados ventos, fui!
Se fui passivo e incapaz, ó sabedores, escarrem-me com toda a leve e incessante fúria, porque não fui, sequer! Como poderia vir, então?!

o resto do corpo esbranquiçado deriva na banheira de cobre enquanto se descobre o quanto é esquiva a proporção do rebuçado que peca por parecer incerto, decerto?

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Inconsciente lives

Prosseguir na desalmada decomposição, decepciona.
Estilhaçam-se momentos antigos por entre chuviscos interiores, espalha-se entre as gotículas do desejo de revisitação. Tal não se proporciona, são incompráveis.
Prezo aqueles que se aguentam de pé, firmes, dezenas de vidros que já se embrenham nas profundezas, vísceras já dilaceradas, mas em pé. Valentes, valentes...
Valentes e incapazes, filhos da puta. Já não são senão escumalha sem fundo, merda a ornamentar o interior dos vasos sanguíneos, visualmente escarrados pelo mundo, profundamente cagados pela sociedade que servem.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Banda sonora do adeus

Quase aniversariante, quase nada. Em dois anos a terra tem tempo para rodar sobre si, dois anos fazem uma criança andar, dois anos fazem alguém não ser. Neste caso, dois anos fizeram o quase devorador de vidros fazer surgir um pseudo-tudo, ou seja, um pré-vulgar. Um nada, portanto.
Ser pessoa entre multidão é sonho de jovem, utopia de semi-génio.
Não que o jovem e o génio não sejam compatíveis, mas subir uma montanha, arrastar o corpo no vale e escalar uma encosta adiante, enquanto dentro do sapato está alojada uma pedra não rolante, mas crescente, que personifica o meio envolvente e teimoso, é tarefa incongruente, impossível.
Sendo assim: um deles fica para trás. Dois anos chegarão para um deles soçobrar?

sexta-feira, 12 de março de 2010

Yes weekend

Um mês traz migalhas desperdiçadas pelo caminhante,
Orgulhosas pela sobrevivência
Num ermo de decadência,
Longe do horizonte onde se conheceram, se misturaram e juntas
formaram.
Antes ainda veriam os campos verdejantes num final de dia
vermelho-sangue. Esses dias matam.
Embora não soubessem do futuro traçado, desejavam o além:
A formação e o ermo. Não sabiam!
Matam a sede de imaginação.
E a formação surge do ímpeto pelo onírico, a utopia e o prazer,
A medíocre
melindrosa
mutilante
maliciosa
motivante
monstruosa
masturbante
maravilhosa
meticulosa
razão do ser.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Estar e ser não é ter e sobreviver.

Hoje vou sorrir porque, afinal, dois mais dois tem solução. Se até estes dois infames têm que ter um ponto final, porque não haverá o meu dia de ter?
É só somar, vive-se a somar, soma-se a morrer, até. Mesmo que os companheiros de viagem se restrinjam a amiguinhos do magistrado imaginário, e as montanhas que subo não passem de amontoados de pastilhas elásticas por jovens há muito largadas, porque não hei-de alncançar o meu quatro?
É assim mesmo, não há outro sentido por onde guiar ao entrar nesta traiçoeira rotunda.
E contorna, contorna, uma das saídas vai ter que ser tomada. Nova rotunda se avizinha, sabe-se e segue-se.
Não sou louco. Havia um senhor que o tentava e forçava, era persistente na sua maldade, e pacato na suavidade com que me fazia ver as coisas acontecer. Esse senhor era faminto de vida, mas no seu esforço pela vida, já trouxe a morte. Ah, mas não a loucura! Pobres em espírito os que a afagaram, inflamaram-se.
Não sou louco, mas a linha que separa os meus actos e intelectos da loucura, são tão leves como a minha mente em dias de chuva. Maldita, divaga sem consentimento, e eu que aguente o tormento.
É demasiado óbvio, porém, está intrinsicamente desconectado pela falta de rigorosidade. É um problema do dito senhor, as pastilhas amontoaram-se em cima dele.

00:34?

domingo, 24 de janeiro de 2010

Apeadeiro dos Jerónimozinhos

Comecemos por traçar perfis. O Jerónimozinho apresenta-se à esquerda das múltidões, ainda mais à esquerda de qualquer dono de casino (deles quer distância, ouve-se por aí), Está em frente a uma pilha de livros capa grossa e empoeirada: assim manda a tradição. Ah, por trás tem os Cunhaizinhos ou uma bonita história para contar: igualdade, vida e saúde para todos. Por dentro...bem, por dentro têm juventude e sede, que sagradas elas são!
Adiante, camaradas. Pinte-se o quadro com uma cor viva...vermelho, pode ser. Emolduram-se emblemas e bustos históricos, pregam-se na parede usando um bom martelo polido.
Como música de fundo pode ressoar um hino de rua, de revolta, de revolução. Ou algo que não seja assim, mas assim signifique. É esta a músiquinha que embala os Jerónimozinhos no leito da união e liberdade campestre e industrial. Surgem, de quando em vez, rumores que apontam para o poder da música, o poder que os faz rever-se nela... é sagaz, essa arte que é dos maestros.
Agora é hora de dormir, o sono é veloz quando a realidade começa a doer, e ela foge! Foge e oásis aparecem por detrás de sombras humanas. Num deserto de ideias, um ideal é o oásis. Se for um oásis por outros montado, desde a nascente até ao fosso, isso já é história para outras melodias, "nós somos isto", orgulham-se.
Mas os Jerónimozinhos sentem-se cansados. Ó Jerónimas engrenagens pós-imbecis, neo-utópicas e pseudo-intelectuais, o que pensais pensar, já foi pensado, está inanimado.
O propósito é outro, é um a contruir, ainda. As aproximações são imitações toscas, além!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A finalidade da Arte é aumentar a auto-consciência humana

Assim.
Se tens a capacidade de construir uma metáfora entre duas estrelas em meia-noite, se caminhas pé ante pé, em detrimento do tradicional "um pé de cada vez", revela-te então ao mundo, tens arte em ti!
Se te fazes rodear de bons senhores: duas cadeiras, sofás desalinhados, feixes no chão e golpes no estuque, fecha os olhos e torna-te consciente. Agora transpõe, ergue-te e dispõe na mesinha uma quantidade de objectos bem visiveis: garfo, 3 latas de atum, várias artes dispersas, um suporte de vela (podes imaginar a vela: vermelha, sucumbida de um lado, orgulhosa de cera no outro, mas não arde, está frio).
A Arte nasce em ti, relembras espisódios diurnos, desejas o norte, o norte soturno. Chuva passa em frente às tuas pálpebras mentais, revives outro dia de morte internacional, logo quando pensavas que esse já se tinha ido embora, não é?
Mas é isto...auto-conscientalizas-te? Então tudo se conscientaliza em torno, e aí a arte já não aparenta transportar tanta beleza, não é?
Deixa lá, amanhã talvez chova e encontres uma nova ocupação meritória das tuas capacidades desumanas, quiçá algo que soe ainda melhor ao ouvido dos mecânicos transeuntes, transportadores de blocos de notas e saquinhos de moedas, 30.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Não ser génio, mas saber quem o é:

"A pouco e pouco vamo-nos tornando sótãos onde o passado amarelece, a pouco e pouco os sótãos invadem a casa que somos, principiamos a mover-nos entre sombras truncadas de gente, emoções, memórias."

Apesar de tudo,

Substituir a existência pela memória,
é a maldade que nos traz a História.
Prezei cada um que se sentou de frente perante o sacrilégio
Ao qual a minha essência foi submetida.
Se torces pela extinção de mentes de gente e gentes dementes
Que mais te poderá trazer vida?

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

"Matar é uma arte"

Eu estou acima daquele, o outro está além, acima de mim. Nietzsche foi um alemão às direitas: colocava cada ser no seu devido lugar, abominava igualdades mentais, super-homem e tal.
Mas… e quem, para além de Nietzsche, gosta e pensa Nietzsche? Ah sim, porque Nietzsche pensa, formas distintas de pensar o acompanham, mas formula teorias baseadas em pensamentos, e fundamenta, vénia! Outros não. E desses sim, o medo pode porvir, garanto.
Brandon é um dos que pensa. Orgulha-se de pensar e sabe bem, muito bem, ouvir e pensar quem realmente exerce um curioso tipo de pressão sobre as células cerebrais, sim, porque elas existem! Claro, é compreensível uma certa apreensão do interessado, se o pensamento e o teor da filosofia se centram no homem, mais concretamente, na extinção de um homem pelas mãos de outro.
Preconceitos picuinhas à parte, um bando deles à parte, é um tema deveras leve para se pensar, sinceramente. Afinal, é algo que todos têm oportunidade e basta quererem para o fazer, mas poucos são os que desfrutam desse âmago prazer. Acompanha o nosso dia-a-dia, essa possibilidade de execução. “Só alguns a ela têm direito”, diz Brandon com olhar maravilhado. Errou apenas no que todo o ser humano erra: seguir-se pelo próprio pensamento. A realidade deveria ser, ela sim, seguida, mas é vil demais, não é?
Concluindo erróneos raciocínios, e depois de reflectida a intrínseca situação, matarias?

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Alguém diria:

Pese a sentença igual da ignota morte
Em cada breve corpo, é entrudo e riem,
Felizes, porque em eles pensa e sente
A vida, que não eles.

De rosas, inda que de falsas, teçam
Capelas veras. Escasso, curto é o espaço
Que lhes é dado, e por bom caso em todos
Breve nem vão sentido.

Se a ciência é vida, sábio é só o néscio.
Quão pouco diferença a mente interna
Do homem da dos brutos! Sós! Leixai
Viver os moribundos!

sábado, 5 de dezembro de 2009

Outra noite de água fria, e chovia.

Sozinho na vontade de ser,
Encolhido e em passo de valsa
O menino que não queria crescer
Dança com a lua, está descalça.

Osculta o envolvente desvario
É calmo, nem sente o frio.
Orgulha o primórdio pensamento,
São os cabelos e são do vento.

Está vivo, melindroso menino,
Por dentro é devorador felino.
Não assusta com a busca
E na escuridão nem ofusca.

Segue, segue, melindroso ser
Quem te mandou devia cescer,
Devia crescer e saber como é.
Como é levantar sem ter pé.

Mas é noite, e noite é esboço.
Que diria o melindroso moço?

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Ostentação do Ridículo Medo

Enquanto sinto ainda
E minha a alma é
Privo a paisagem que é linda
Apetrecho o fruto que era de fé

Sonhos dançam no ecrã
Sombras que sofreram de manhã
Restos de paz que vêm da guerra
Surgirão um dia e não na terra

Os dedos começam a abandonar o corpo
Fé a deles que a minha já não tem
As mãos, os braços, trazem o mofo
Os olhos espelhados mostram desdém

Abençoado
Distribuidor de incompatibilidade
"Já o cabelo me dói", diz.
"Que já não sabia tua idade"

Raro toque de leveza cruel
Assombra ditos e transforma desditos
Seu pavoroso sabor a mel
Traz Morfeu, Deus dos malditos

Sê paciente pois vêm os elefantes
Conseguem eles ouvir com elas
A manada dos pobres gigantes
Arquitectos das paisagens mais belas

Cava Lázar, cava
Conseguirão ao cume chegar
Lá encontrarás a planta
Que te dirá como é saltar

1979 foi ano de revolução
Armas pousadas, granadas no chão.

Vinte e cinco já foram,
Vinte e quatro mil faltarão
O que mais quer que eu faça
Os mais fracos desistirão
E eu continuarei,
Em vão.

Ostentação do Medo - "Daqui vos fala"

Céu resplandecente, cega.
Não faz senão chorar,
Lágrimas suas a dor levam
Esbatem no solo e voltam a ecoar.

O vento sopra, doido
sem rumo, sem fim.
É apenas um sopro do
vazio, não do que há em mim.

A chuva parou já,
não valia a pena ser!
Tudo não passou de má
estância de o coração bater.

Faz mil anos que não chove,
Mundo esse que não este
A dor? Montanhas não move,
E não retorna o que perdeste.

Turbilhão esse, já existiu
Nos mil anos já passados
Sopro que não me serviu!
Dor, chuva, vento bem pisados.

Ostentação do Medo - 2628

Insubstancial que não sonha ser:
Alma, corpo, eu ou gente,
Aqui nada mais há a fazer
Pois o que era deixou de o conhecer
E amestrada resta a mente.
Que não sonha nem quer ver
Aquilo que o outro (o outro!) sente.
E sente como se não quisesse sentir
O que a mente não pára de pedir.

domingo, 22 de novembro de 2009

Pontos brancos em negro púrpura

A noite é amiga do ridículo. Ele lá se senta e começa a divagar pela fantasia e pelo modesto tilintar do lápis que surge por entre os dedos direitos. Longos e platinados, da cor da terra, aquela que normalmente vem obstinada ao pedacinho de erva, que cheira a fresco e tem paz. Tem paz mas tem guerra, acarreta inúmeras batalhas sem fim, batalhas de verde e castanho, ouvi dizer.
Dizia então: o ridículo veste-se de vermelho ou preto, coça o nariz, e pensa no lápis que tem entre os dedos. E este o que lhe diz? “Olha, ridículo, por muitas vedações já tu passaste. E depois escreveste em paredes, e essas palavras foram apagadas. Sem dó, não foi, ridículo? Mas deixa pra lá, ergue-se o Adamastor para os lados do mar, e ele te encaminha. Longos tempos passei com ele...era assustador, no início! Mas depois… ah, depois, tão dócil Adamastor, que longas conversas, que descobertas fiz eu, na companhia dele. O propósito era o bem maior, dizia ele. E num dia desse sem que acordava com um pé na relva, e outro no lago lamacento – aquele, para os lados da terra do La Palisse, óptimo torturador de reais – e então o lago deixava-o mal disposto, e partiu. Partiu e nunca mais a vista lhe pus em cima, pobre diabo!”
Intervém então a vontade. E que diz a vontade? A vontade é preguiçosa e faz-se demorar… ora é num pé, ora faz marcha a ré – sábias palavras do pai sucesso! – e dali não sai, dali não arrisca. Entra o ridículo e diz, com firmeza, que neste ponto não se avança agora, que a pressa é inimiga do pai da vontade, e instala-se o conflito que há muito em lista de espera se arrastava.
O conflito é bem-vindo no meio da história. Nem mais 20 páginas do meio, nem menos 20 páginas do centro. Misticismos à parte, o ridículo aborda de novo a questão e resolve dar ouvidos à vontade. Até à próxima, gigante de dóceis lombadas e fúteis dedadas, no comma, no lies, no surprises, no journal. Toujours Pour, ridículo.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Sépia de antepassado

Vê o que os teus olhos te levam a ver:
Luz, escuridão, espelho, reflexão. Explosão.
Não és nem mais, nem menos, do que te originas ser,
E todos os dias te presenteias com mais saber.
E entre saber e não saber, vale mais querer, do que outro qualquer!
Incrementa o que de melhor há em ti. Se és presenteado,
Teme e passa atrás, contorna, enfrenta e segue, estás livre.
Assisto à tua queda mastigando, de pálpebras semicerradas,
Peito erguido, e seixo no seu centro.
Não sei por onde começou, mas desde sempre sabemos onde vai acabar.
Entretanto:
Terás que viver contigo e com os demais eus.
Não soçobres, nunca foi essa a intenção do solene vulto que declama.

domingo, 25 de outubro de 2009

Sapere aude

A raiz do lótus está na lama,
Cresce atravessando as águas profundas,
E ergue-se na superfície.
Ela mostra a beleza perfeita e pura a luz do sol.
Ela é como a mente que se desdobra para atingir a perfeita felicidade e sabedoria.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Apoio Caeiro:

Procuro despir-me do que aprendi
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras,
Desembrulhar-me e ser eu...

Do not trust

Não confies em mim.
Não confies na água que te torna o mundo mais visível pela manhã. Essa água que dizes não beber, mas te sacia a sede, os vícios e os desejos. Água, abençoada pelos que malfazem, maltratam e maltequerem. Um dia, essa mesma água que te correu entre os dedos, correrá entre dedos assassinos, sufocar-te-á até à morte, levar-te-á ao fundo da mais íngreme escuridão.
Não confies no sorriso que te parece ser o último sinal de infância no mundo. Esse sorriso um dia será amaldiçoado pela tragédia inevitável da humanidade. Sorriso que é máscara de imperfeição e malícia, é refutação de Nietchze e é fundamentação de toda uma mente de Freud. Mas é sorriso, e embeleza faces, semeia fases e faz ingénuos crentes na felicidade, fatal. Esse sorriso revelar-se-á célere, trará humanidade e irá contigo até ao teu ermo, será a tua falsa companhia na eternidade.
Não confies no ar e no vento que te fazem sentir vivo em local cujo objectivo é: morte. Ar leva-te à paisagem mais profunda, vento traz-te de volta quando te pensas completo. Ah, ar de intempérie esse, faz voar, e acompanha os felizes precipícios. Vento, que é brisa, e é amanhã furacão, e te esmaga como fosse de “Deus” a mão.
Não confies em sentimentos, pensamentos ou saberes. Dão-te toda a sensação de vida, choras porque pensas que sentes, ris porque pensas que sabes, mentiram-te porque não vês para dentro, ele dizia. E minto-te eu porque afirmo que não vês para fora, o fora é o que dentro te faz ver. E vês, e achas que sentes, pensas e sabes. Mas não sabes, caro comparsa.
Enfin, não confies. destino, Algo Superior, Entidade Universal, Natureza, deus, Democracia, Mal, Bem. Não confies em seres, não seres ou nasceres.
Aqui é ali, e ali já não há.

domingo, 11 de outubro de 2009

Solidá-lo

Cinco toneladas de
carvão,
e lá se fez a
industrial revolução.

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

de Cortanze

Permanece aberta diante de mim,
incansável.
No teu destino de reflexos. Na
tua tristeza profunda. Saberás
um dia bruscamente transpor este
universo de invernos,
este espaço de corredores de escudos de raptos?
Quem saberá dar-te este voo suave, ou esta
terna pálpebra de prados e de altas noites, ou
esta metamorfose dos silêncios nos teus rins?
Quem? Entre a nova onde mascarada?
Em aparências, em hortênsia, em cinzas?



155

Terreno de Alice

Onde a relva é vazia e não verte sangue,
Borboletas lançam-se em abismos
De ventos que giram em sentido contrário.
Vermelho jamais será mudança,
Cor dos que vertem, de cada poro, palavras;
Ícone dos que sonham morrer na lança.
O terreno de Alice vive, sendo.
Respira através dos infames bonecos amarelos
Mas quem caminha, fá-lo sob riscas brancas.
Esse tal vermelho torna-se compacto
Na ponta dos dedos do que desespera.
Roedores não sobrevivem no terreno suplantado,
Agoniam em tarjetas de açucar,
Embalando uma efémera vida, que célere já foi.
Crianças são ainda crianças e sabem cuspir
Bolas de fogo, balas de berlim:
Fada e madrinha já não estão, plim-plim..
Contos e encantos preenchem futuros,
Traidores da justiça.
A balança pende para a frente enquanto
O operário se arrepende
Contornando o quadrado reflector do fracasso.
Escuro é o limiar da estupidez,
Desgrenhado e poderoso na sua pacatez
inválida, própria do opinante.
Ausência de fonte, no invólucro, é sinal.
O terreno de Alice alimenta e respira,
Suga felicidades, semeia capacidades.
No fundo, vale mais não ser,
Mas ser um ser:
No terreno de Alice.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Renascimento Disfarçado

Não é rapaz? Andas por aí, roubas umas quantas estrelas como profissão, bebes do orvalho da manhã que te aquece, inspiras as poeiras das flores que se esforçam por abraçar o terreno que as acolhe de olhos abertos, alimentas-te do raio de sol que trespassa a folhagem das árvores no bosque, ah desgraçado!
Não me deixes é para trás, isso é que não. Podes continuar com as tuas viagens por entre as esquinas de cada nuvem e a subir e descer olhares de desconhecidos que por ti passam. Mas para trás não me deixes, porque a tua imersão provém de mim. Se te envolves num ambiente, ou te envolves num acontecimento, é porque eu to tornei possível, é graças a mim que ainda é possível uma reentrância se formar na tua face, por vezes, meu caro.
Portanto, tenta só chegar ao pé de mim e dizeres “I lost myself”, e abano-te até todas as protuberâncias que te definem saltarem da sua inconsciente órbita. Esmago-te cada fiozinho de cabelo até que tal tortura te exponha o ponto onde quero chegar, pois não mais usarei as tais palavras anteriormente construídas, ou a colocação de uma ideia aqui, outro pensamento bonito acolá.
No caminho estás tu, meu querido comparsa. Ah, longos percursos por entre as brasas nós juntos já passamos! E os grãos de areia que tivemos que contar, um a um, para organizar como puzzle, até erguerem a sólida barreira de vidro que na tua frente se encontra? Ainda hoje me pergunto como conseguimos tanto, e tão rapidamente, e tão estupidamente, necessariamente. Entre tu aí, por detrás dessa barreira, e tu aqui, desprotegido das ventanias e verdades absolutas, estás melhor aí. Não continues é com a construção da obra, não a feches. A conclusão de uma obra de arte é o assassínio da mesma.
Belo aspecto, homem de plástico exterior e vidro estilhaçado interior. Agora olha: ouves, calas-te. Vês, pensas-te. Desiludes, estilhaças-te. Se o plástico fosse de borracha e apagasse…
Um dia voltarás a fazer-me companhia, esteja o sol um pouco mais maduro, e voltarás.

Primórdios

Hello.
Is there anybody in there?
Just nod if you can hear me.
Is there anyone home?

Come on, now.
I hear youre feeling down.
Well I can ease your pain,
Get you on your feet again.

Relax.
I need some information first.
Just the basic facts:
Can you show me where it hurts?

There is no pain, you are receding.
A distant ships smoke on the horizon.
You are only coming through in waves.
Your lips move but I cant hear what youre sayin.
When I was a child I had a fever.
My hands felt just like two balloons.
Now I got that feeling once again.
I cant explain, you would not understand.
This is not how I am.
I have become comfortably numb.

Ok.
Just a little pinprick. [ping]
Therell be no more --aaaaaahhhhh!
But you may feel a little sick.

Can you stand up?
I do believe its working. good.
Thatll keep you going for the show.
Come on its time to go.

There is no pain, you are receding.
A distant ships smoke on the horizon.
You are only coming through in waves.
Your lips move but I cant hear what youre sayin.
When I was a child I caught a fleeting glimpse,
Out of the corner of my eye.
I turned to look but it was gone.
I cannot put my finger on it now.
The child is grown, the dream is gone.
I have become comfortably numb.

Reminiscências/Contextualização

Percorre desassossegadamente a deserta rua, embrulhado nos mais longínquos e obscuros pensamentos. Benjamim mostra-se absorto de tudo o que o rodeia. Tudo isto que, afinal, nada é! Dezenas de pessoas o rodeiam.
Milhares de vozes o rodeiam, porém, nada lhe parece ser Português. O Português que, por vezes, encontra numa noite de insónia, num (não) qualquer canal, ou no canto inferior esquerdo da última página de um jornal abandonado. Mesmo por cima deste jornal, havia um cartaz que anunciava “Nova Exposição de Olaria em Barcelos, não perca! De 18 de Janeiro a 14 de Fevereiro”.
“Porque não me falas, maldito jornal?!”, pergunta Benjamim.
“Ei, rapaz! Sim, tu! Podes dizer-me o que podemos fazer enquanto O Autocarro não chega?”, pergunta um idoso que estava acompanhado por mais cinco pessoas com, sensivelmente, a mesma idade. Benjamim limita-se a apontar o cartaz. Sim, o mesmo cartaz. Não. Não! Não é o mesmo cartaz que vira. Este anuncia: “Nova Exposição de Olaria em Barcelos, não perca! De 20 de Fevereiro a 15 de Março”
Benjamim prossegue na sua caminhada. Não observa, portanto, O Episódio: segundos depois de os idosos acabarem de ler o cartaz e abandonarem o local, sorrindo satisfeitos, uma criança vê o cartaz, lê-o com atenção, observa-o. Num gesto brusco, arranca o cartaz da parede e, com um gesto mecânico (como se de um Hábito se tratasse), coloca no chão a folha imprestável que tem nas mãos.
Benjamim senta-se, sonolento…

Aprecia, finalmente, o que o rodeia. Ruas inundadas de pessoas que, a passos largos, se deslocam na mesma direcção: Oeste. A mesma direcção em que, segundo o “Boletim Meteorológico, sopraria o vento em Portugal.
Mas, algo desperta ainda mais a atenção de Benjamim! Uma criança que, de mochila às costas, filme de Fellini na mão e olhar de ligeira loucura, fixava algo à sua frente (algo que Benjamim conseguiu identificar). A criança deslocava-se, precisamente, no sentido oposto ao de todos os outros. O olhar da criança cruza-se com o de Benjamim.
Ambos vêem algo a esvoaçar, como uma ave perdida (esquecida?). Consegue ler-se no panfleto esvoaçante “Sean Riley & The Slowriders em Barcelos – dia 18 de Abril”.

Benjamim levanta-se de um sobressalto. É um interminável fim de tarde em que o sol já não brilha. Talvez no Porto, ou Lisboa! Em Barcelos não.
Procura o chão. E, de novo, Benjamim se acomoda no banco, percorrido por uma desconfiada alegria, como se milhares de vidros no seu estômago tivessem sido (por breves momentos) reduzidos a pó. No chão, encontrava-se apenas um cartaz onde nada se conseguia ler: alguma ave dispusera, por cima do jornal, uma quantidade significativa de excrementos.
Ilustres Excrementos de Ave




Bernardes (Quinta-feira, 10 de Abril de 2008)